Crônicas

ENCANTADO
Autor: Marcos Maluly

Chega se a conclusão de que a única forma de encontrar um grande amor é buscando em sites de relacionamentos, especializados em unir pessoas. A quantidade de sites com promessa de encontrar seu par prefeito é enorme. Garota tímida, recatada, criada sob o olho de um pai rigor, severo, raramente sai de casa. Amigos, paquerar ou bate papo em barzinhos nem pensar. Como poderia uma criatura dessas encontrar um namorado. Vivia dentro de casa, assistindo novela das 6 das 7 e das 8 e por ai vai.
Seria humanamente impossível. O tempo para ela passava a velocidade da luz 18, 19, 25, 29, e ajam autores para tanto tempo de novela. A globo já estava nas reprises e como era de se espera ela já falava o texto antes do ator. Foi ai que ela chegou à conclusão de que precisava mudar. E a solução seria busca o seu príncipe encartado em alguns desse site de relacionamento. Em um acidade monstruosa vai parar na casa de uma amiga que de amor e relacionamento foi reprovada e juntas acessam o primeiro site que aparece na tela. O primeiro campo a ser preenchido era o “Apelido”. Um apelido? Apelido, apelido, um apelido! A amiga dá a ideia de usar o apelido de criança. Nem pensar. “orca” estava fora de cogitação, Assustaria qualquer pretendente.
Na realidade ela precisava de algo sensual, quente, sugestivo, não extravagante. A amiga diz: Eu sei, eu sei. “Donzela Arrepiada”! Não era um apelido perfeito, ou seja, faltou criatividade, mas, deixava pra lá. Nesse momento ela tinha que ser sincera, se não fosse poderia comprometer o futuro do relacionamento. Até ai tudo bem, mais na hora de preencher o campos como idade, altura e peso, lhe faltou sinceridade. Todo sabem que sinceridade demais desgasta qual quer relação. Por isso, diminuiu peso, cabelos altura idade. No campo onde tinha que falar do que gosta, ai ela não poupava conhecimentos e pensou. Homens gostam de mulheres cultas. No campo que perguntava sobre escritores escreve o que vem na cabeça. Vinicius de Morais, Tom Jobim, Bio Clinton, Michael Jacson tinha que ter autores com nome em inglês assim parecia mais culta.
No decorre dos seus vinte e nove anos ela só tinha visto novelas. No fim do cadastro ela chegou à conclusão de que se colocasse a verdade talvez não encontrasse interessados, viu também que podemos ser como quisermos. No fim das contas, havia mudado tantas suas características, que nem um especialista em retrato falado conseguia desenha-la. Com tristeza percebeu que, se ela agira de maneira desonesta, não seria difícil imaginar que outros agiriam da mesma forma. Um jovem de vinte e nove anos, corpo atlético, olhos verdes e bem dotado, poderia ser encarado como homem de meia idade, desorientado, gordo baixo e barrigudo, frequentador assíduo do boteco de mãe Rita e do terreiro de pai Maria. Parou pesou fechou o navegador sem salvar o cadastro e retornou para sua vidinha corriqueira.