Causos

A SOGRA VIVA
Autor: Marcos Maluly
Ilustração: Zé Damião - Xilogravura

Lá pras bandas de Cuité, no sertão pernambucano, um cabra desses abodegado, e metido a atrevido, me contou uma história nova que até mesmo Deus duvida, que na festa de reisado, com pá, chibanca e machado, enterrou a sogra viva. Era festa de reisado o sertão todo animado. Pra comprar chita e babado, minha mulher foi para cidade, e ela sem ter maldade levou todos os meninos, minha sogra ficou dormindo numa rede escancarada. Eu doido pra me livra dessa cobra cascavel, pensei:
- Posso até deixa a mulher, estava tudo resolvido conversa no pé de ouvido eu num ia escutar. 
Mais depressa veio ligeiros um ideia em minha mente:
- Faço uma cova no terreiro "bem fundo" amarro a veia na rede e coloco ela lá dentro.
Pronto estava tudo bem pensado só me faltava saber como erra executado, pensei, pensei
e disse:
- Minha sogra! Você devia ter ido passear lá na cidade, pra comprar roupa bonita, um vestido de algodão.
Ela disse:
- Vou não! O dinheiro esta escasso, se eu comprar roupa de cima, me falta roupa de baixo.
Eu gritei:
- O que é isso, o que é isso? Faltar? Não lhe falta não! Se tu tiver um traçado, com o meu pra inteirar, tu pode até viajar nas asas do avião. Sentada! E bem sentada!
E ela grita de lá:
- Danou-se! Desse jeito eu não vou não! Como posso viajar se aqui não tem parada?
Eu parei, fiquei pensado e a resposta lhe foi dada:
- Se quiser ir diga logo, e não ache mais defeito. O cabra que nele anda é um amigo do peito. Se
quiser, diga que sim, que daqui eu dou meu jeito.
Ela fala lá do quarto:
- E quando eu posso ir?
Lhe digo sem gaguejar:
- Hoje! No avião do leite, é esse que passa aqui.
Animada ela concorda:
- Está bom! Vou logo me arrumar!
E antes que eu encha o meu peito de alegria ela vem e fica aqui "bem na minha frente" e diz:.
- E como eu posso subir?
E sem piscar eu digo:
- Numa corda! Amarada numa corda! Bem amarada!
E vá logo se deitar, que a noite está chegando, e ele já vem zonado lá pras banda do alto mar.
Estava feito o desmantelo, e a veia volta pra rede. E eu corri lá pro terreiro e um buraco fui fazendo usei pá,
chibanca, machado e não tinha ninguém vendo, estava tudo preparado e eu fiquei ali parado, um tempo lhe observado. Pego a corda que comprei na rede foi amarrando.
Ela foi logo dizendo:
- Dê nó cego, bem dado, desse bem apertado, que é pra quando eu for puxada, o laço não desatar!
Dei pra mais de duzentos! E pra a rede fechar, faltava mais uns sessenta.
Enquanto eu dava mais nó ele disse bem baixinho 

- Não vou mais! Se tu for eu vou! Se tu não vai eu não vou mais!
Ela se levanta e sai, lá pro lado do terreiro. E eu entro em desespero, o trabalho estava perdido, a minha mulher voltou e pra mãe traz um vestido, com estampas amarela. E eu fiquei doido moendo, esbravejando na janela. "Isso é um troço! Isso é um troço!" E me veio um pensamento:
- Mãe é mãe! Eu não tenho argumento. Sogra pra mim é troço mais esse troço é a mãe dela!